1 de mar. de 2010

Leia a entrevista exclusiva com Dede ao site IG.



“Jogo bem aqui para estar bem com a torcida e com o clube”. O lateral-esquerdo disse em um bate-papo com o iG que não pensa mais em vestir a camisa amarelinha, assim como defender a seleção alemã

SÃO PAULO - Nascido em Belo Horizonte, revelado no Atlético-MG, e atuando no futebol europeu desde 1998, o lateral-esquerdo Dedê é ídolo na Alemanha. O brasileiro conseguiu nesses dez anos por lá conquistar uma das mais fanáticas e presentes torcidas do futebol mundial: a do Borussia Dortmund.



Leonardo de Deus Santos teve uma passagem rápida pelo Galo mineiro, onde começou sua carreira em 1996 e conquistou apenas um título, o da Copa Conmebol de 1997. No mesmo ano foi eleito o melhor lateral-esquerdo do Brasileirão e levou para casa a Bola de Prata, prêmio oferecido anualmente pela Revista Placar.

Pelo Borussia, Dedê foi campeão Alemão de 2002, e as boas atuações na época lhe renderam uma convocação para seleção brasileira, em 2004, quando o treinador era Carlos Alberto Parreira. O camisa 17 do time alemão ainda jogou pela seleção olímpica.

Em entrevista exclusiva ao iG Esportes, o lateral, que completará 30 anos no próximo dia 18 de abril, revelou que não sonha mais em vestir a camisa da seleção brasileira, assim como também não pensa em jogar pela Alemanha, como já foi cogitado pela imprensa há algum tempo.

Dedê ainda expressou todo seu amor pelo Atlético-MG, que completou 100 anos de existência nesta semana, contou como foi sua adaptação no futebol alemão, e confessou que não pretende deixar Dortmund tão cedo, onde inclusive já descartou boas propostas de grandes times da Europa.

Primeiro, uma curiosidade: de onde vem esse apelido?
Isso é da época de criança. Eu ficava com detergente na mão, correndo atrás dos meus irmãos, e só conseguia falar “dede”. E aí pegou.

Você recebeu uma proposta de jogar pela seleção do Catar. Conte-nos como foi.
A proposta do Catar foi há uns 5 ou 6 anos, e não aceitei porque na época ouvi muitos comentários ruins, e de que tinha muito dinheiro envolvido. No começo parecia simples, mas depois se tornou uma bola de neve, com a Fifa intervindo. Ainda conversei com minha família, que não quis por questões de segurança, então eu respeitei.

E a naturalização para defender a seleção alemã?
Fiquei feliz na época, eu estava num momento bom aqui no Borussia, era disciplinado, todos me respeitavam – e ainda respeitam -, treinadores dos clubes elogiavam dizendo que eu era um brasileiro, mas com a disciplina alemã. Surgiram esses boatos sim, foi bem visto pela critica alemã, mas eu não tinha passaporte na época, e depois não se falaram mais nisso. Hoje tenho passaporte, mas não aceitaria jogar, mesmo porque a Alemanha está bem servida na lateral. Já vou fazer 30 anos de idade e não tenho mais cabeça pra isso.

Como foi sua chegada em Dortmund? O período de adaptação foi fácil?
A chegada foi bem aceita, o Borussia me recebeu muito bem, tanto que fui escolhido o melhor do time nas minhas duas primeiras temporadas por aqui, foi muito legal. Mas fora de campo com certeza foi difícil no começo. Tive muitos problemas, deixava a música alta, e a polícia sempre vinha na minha casa pedindo pra abaixar. Sem contar a conta de telefone que era sempre alta... mas valeu a pena. E quando aprendi a língua alemã, as coisas ficaram mais fáceis.

A torcida está confiante para o duelo na final da Copa da Alemanha contra o "super-time" do Bayern de Munique? E vocês jogadores?
A torcida do Borussia é uma das maiores do mundo em média de público, é uma coisa de louco o que acontece. Só perde para a do Manchester United, acho. Aqui estão todos confiantes na conquista do título da Copa da Alemanha. Recentemente, tivemos dois jogos seguidos em casa e o público somado foi de 160 mil. Com certeza, vamos encarar o Bayern de igual para igual para levantar a taça.

Você é ídolo de um time que tem uma das torcidas mais fiéis da Alemanha, mas que não repercute muito fora do país. Não tem ambição de trocar de clube para jogar no Bayern, por exemplo, e fazer uma ponte para outros grandes clubes europeus? Ou a vida está boa demais para sair daí?
Acho que não. Tenho contrato até 2011 e pelo que já passei no Borussia, e pelo carinho que tenho da torcida, seria uma traição da minha parte. Já tive boas propostas do Bayern, Roma, Galatasaray, mas resolvi ficar. Se a gente perde um jogo, pode sair no meio dos torcedores, sem problemas. Eles te respeitam. Mesmo você estando mal, eles sabem separar. Estou muito feliz aqui e para eu sair do clube é muito difícil. Não vejo motivo para isso.



Começo de carreira com a camisa do Atlético-MG
E Jogar no Brasil novamente?
Se por acaso eu voltar a jogar no Brasil, só se for no Atlético-MG. Agora no centenário do clube fui lembrado e só tenho que agradecer à torcida do Galo. O ano de 1997 foi muito intensivo, fiz uma boa dupla com o Marques – que hoje está no Atlético - do lado esquerdo. E quando volto à Belo Horizonte sinto um carinho muito grande dos atleticanos. Mas aqui na Alemanha também é assim, a torcida sempre lota o estádio e fica até difícil falar em voltar ao Brasil.

Por falar em Galo, se daqui a 20 anos Borussia e Atlético se enfrentarem numa final de Mundial, para quem você vai torcer?
Ah, para o Atlético, claro! A paixão fala mais alto...

E depois de tanto tempo por aí, você ainda acompanha os jogos do Galo? Torce pelo clube?
Acompanho sim, leio sempre os jornais. Sempre ligo a televisão e vejo o futebol brasileiro. Sempre torci pelo Galo.

O Amoroso, quando deixou o Borussia, travou uma briga séria com o Borussia devido à lesão que ele teve. Aqui no Brasil, a imagem do clube, sobretudo do departamento médico, ficou arranhada. O departamento médico tinha mesmo problemas?
Nunca tive nenhum problema com relação a isso aqui. Não posso falar nada sobre a saída do Amoroso porque não fiquei muito por dentro. Ele foi um ídolo no Borussia e até hoje é lembrado por aqui. Foi artilheiro, campeão, e é o melhor jogador de área que já joguei junto. E o departamento médico mudou, não é o mesmo daquele tempo.



Na seleção brasileira
Depois do Roberto Carlos, a vaga na lateral-esquerda da seleção brasileira ficou aberta. E parece que as opções diminuíram. Você ainda sonha com a vaga?
O jogador que fala que não quer jogar por uma seleção brasileira está mentindo. Acho que o Dunga faz um grande trabalho de renovação e dá chances para quem merece. Hoje isso já não é minha prioridade. Tive oportunidade de ser convocado algumas vezes, mas não é mais meu sonho. Se for convocado pelo Dunga, claro que vou me apresentar. Mas jogo bem aqui para estar bem com a torcida e com o clube.

Quais as heranças mais importantes da Copa do Mundo para o futebol alemão? Na sua visão, o que o Brasil tem a ganhar com a Copa de 2014?
A boa imagem que fica é o melhor. A Alemanha fez uma ótima Copa e deu seqüência na organização dos torneios, nos bons estádios... isso é o que fica de positivo. No caso do Brasil, o País só tem a ganhar com o torneio de 2014, o povo é caloroso e tem tudo para sediar e fazer uma das melhores Copas da história. O grande problema é a violência.

Depois de ser campeão em 2002, o Borussia quase caiu no ano passado e agora está de novo numa posição desconfortável na Bundesliga. Por que o time não se manteve no topo, mesmo tendo uma das melhores rendas do Campeonato Alemão — e, conseqüentemente, mais dinheiro?
Daquele elenco de 2002, sobraram só eu e mais um zagueiro - que inclusive está para se aposentar. Houve um desmanche no time e o presidente investiu muito para pagar as dívidas, tanto que até reduziu salários dos jogadores, e mesmo assim aceitei ficar no clube. Hoje já não deve mais nada, tem dinheiro em caixa e está pronto para fazer investimentos a partir do ano que vem. Fico feliz em fazer parte dessa história.

O Tinga, que também joga no Borussia, se adaptou facilmente à Alemanha?
Só tinha eu de brasileiro quando ele chegou. Ele sempre está na minha casa e eu na dele, as nossas famílias se dão muito bem. Eu já ajudei o Tinga em muitas coisas aqui. Ele já chegou bastante feliz, é querido por todos, tanto que o clube já pensa em estender seu contrato por mais 3 anos.

Por que a Alemanha, apesar de contar com a principal economia da Europa, não consegue brigar com países como Inglaterra, Itália e Alemanha para contratação de jogadores? Fala-se sobre o tema por aí?
Os alemães têm o pé no chão. Os clubes daqui não podem investir e fazer dívidas, como acontece na Espanha, por exemplo, que não é controlado. Aqui na Alemanha o clube tem que provar que tem condições de manter um time e pagar salários. Por isso que não tem atraso nos pagamentos, tanto na primeira, quanto na segunda divisão.

*Colaborações de Gian Oddi e Paulo Tescarolo

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